Manhã de sábado do dia 10 de maio de
2014. Brisa outonal num prenúncio de dia sem sol. À espera do ônibus que me
deixará na Avenida Imirim, em Santana.
Corredor da Avenida Rio Branco, travessa
da Alameda Nothman.
Casacos, mãos nos bolsos, homens e
mulheres aguardando o transporte.
Ao longe a figura se aproxima: um homem
andando com um pedaço de madeira feito uma bengala. Esbarra, tropeça, tateia.
Seus olhos cegos não veem a cor do dia. Não
enxergam nossos olhos que não desviam a atenção de sua figura.
Caminha lentamente. Mal chega e grita: “Que
ônibus é esse?”
Um sujeito responde depois de longo
silêncio: “Terminal Pirituba.”
O homem se prostra entre nós. Silêncio incômodo.
Aproximo-me, curvo e pergunto: “Qual ônibus
o senhor vai pegar?”
Ele ergue a cabeça, os olhos encerrados
no vazio, sorrindo responde: “Casa Verde ou algum outro que passe no albergue
ali da frente. Eu moro na rua, sabe?.”
“Eu te aviso quando o ônibus chegar. Você
mora na rua e anda sozinho por aí, sem ninguém pra te ajudar?”
“Eu e Deus! Fazer o quê, né! Cê me
avisa, então?”
“Claro... ali vem um ônibus. É o seu!”
Dou sinal. O ônibus para. Levo-o até a
entrada. Motorista abre a porta. O senhor pergunta se pode entrar por trás para
pedir um “dinheirinho”. A contragosto o motorista permite.
Partem!
Fico ali, pensando no que acabou de
acontecer. Mal tive tempo de ao menos perguntar seu nome. Com sorte consegui
depositar um “dinheirinho” em sua mão enquanto ele subia as escadas.
Um senhor cego, morador de rua, negligenciado
por muitos.
Encontrá-lo me fez repensar tantas
coisas.
Não sei ao certo o que mudou em mim, mas
saí bastante modificado desse encontro...
Por Felipe Dias Batista