segunda-feira, 12 de maio de 2014

10 de Maio

Manhã de sábado do dia 10 de maio de 2014. Brisa outonal num prenúncio de dia sem sol. À espera do ônibus que me deixará na Avenida Imirim, em Santana.
Corredor da Avenida Rio Branco, travessa da Alameda Nothman.
Casacos, mãos nos bolsos, homens e mulheres aguardando o transporte.
Ao longe a figura se aproxima: um homem andando com um pedaço de madeira feito uma bengala. Esbarra, tropeça, tateia.
Seus olhos cegos não veem a cor do dia. Não enxergam nossos olhos que não desviam a atenção de sua figura.
Caminha lentamente. Mal chega e grita: “Que ônibus é esse?”
Um sujeito responde depois de longo silêncio: “Terminal Pirituba.”
O homem se prostra entre nós. Silêncio incômodo.
Aproximo-me, curvo e pergunto: “Qual ônibus o senhor vai pegar?”
Ele ergue a cabeça, os olhos encerrados no vazio, sorrindo responde: “Casa Verde ou algum outro que passe no albergue ali da frente. Eu moro na rua, sabe?.”
“Eu te aviso quando o ônibus chegar. Você mora na rua e anda sozinho por aí, sem ninguém pra te ajudar?”
“Eu e Deus! Fazer o quê, né! Cê me avisa, então?”
“Claro... ali vem um ônibus. É o seu!”
Dou sinal. O ônibus para. Levo-o até a entrada. Motorista abre a porta. O senhor pergunta se pode entrar por trás para pedir um “dinheirinho”. A contragosto o motorista permite.
Partem!
Fico ali, pensando no que acabou de acontecer. Mal tive tempo de ao menos perguntar seu nome. Com sorte consegui depositar um “dinheirinho” em sua mão enquanto ele subia as escadas.
Um senhor cego, morador de rua, negligenciado por muitos.
Encontrá-lo me fez repensar tantas coisas.
Não sei ao certo o que mudou em mim, mas saí bastante modificado desse encontro...

Por Felipe Dias Batista




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