segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mulhéres

A 5 dias do dia das Mães e exatos 5 dias depois do seu aniversário, Rosimere e eu nos conhecemos. Duas mulheres sentadas sobre a grama da Praça da República, sobre a vida. Seus desafios, seus cortes, suas viradas. Suas inesperadas piadas. A vida pega a gente de surpresa, né mesmo?
Rosi tem três filhos, cada um mora em um Estado e nenhum aqui. A filha Vitória, de 7 anos, vive em Curitiba, minha cidade. Rosi quer ir para lá, procurar a filha. Ela lembra perto de qual ponto de ônibus a casa da família que a acolheu fica. Eu acabo de voltar de Curitba. Agora já tá fazendo frio por lá.
Perdeu a mãe há quatro anos, que é ainda sua confidente e ombro. Ela passou parte dos dias deste mês em um quarto de pensão, mas o ambiente a fazia lembrar muito da mãe e preferia sair às ruas.
Como eu, Rosi já teve três maridos. Como eu, ela pensa em se separar graças à falta de carinho. Eu não amo ele, eu gosto dele. Como que a gente pode amar alguém que não faz carinho?
É o que eu sempre me perguntei.
Rosi frequenta a Igreja Mundial, mas pensa em sair de lá. Ela precisa de ajuda financeira para ir para Curitiba e esta Igreja não oferece.
Rosi, cê tem mesmo é cara de feiticeira.
Ela pressentiu que estava grávida as três vezes e agora pressentia de novo, o que a impede de se separar. Ela conversa com a mãe. Adivinha as caduquices do marido. Adivinha as minhas próprias.
Não, você diz isto por causa do cabelo!
Um cabelão preto azulado, pintado há pouco, como o ruivo meu.
Eu gosto é de cabelo vermelho, mas na Igreja não pode.
A Rosi é linda, uns olhos expressivos entre o verde e o castanho. A moldura de cabelos negros e mágicos. Um sorriso aberto e grande, faltando um dentinho que conta que a vida não foi fácil até ali.
Você é nova, sim! E nem parece 42! Nem aqui, nem na China!
Rosi quer ter seu próprio negócio. Ganhar 12 mil por mês e ter novas roupas. Em Curitiba, quem sabe.
Eu não gosto de me arrumar. Na rua, não dá. Eu não quero ninguém, sabe?
A Rosi já teve muitos nomes, muitas moradas, muitas vidas.
Ela, como eu, se prepara para uma nova. Que ninguém sabe qual, nem onde, nem por quê.

livy


Nenhum comentário:

Postar um comentário